Casimiro parou por um instante olhando para os companheiros de viagem e então continuou:
— Era nossa quarta jornada. Levávamos cargas para barganhar com os mineradores que lá se achavam. Em nosso comboio, desta vez, iam dez batelões, sem passageiro algum em nossa canoa. A viagem levaria alguns meses. Oh, se soubesse que seria a derradeira, teria aproveitado um tanto mais no porto de Araritaguaba, o porto feliz. — Todos os homens acenaram positivamente. — Então, nossos desassossegos começaram a surgir neste trecho onde nos achamos, daí nossa recepção tão truculenta. O primeiro mau presságio foi a vista da Pirataca.
— Pirataca?! — Munduco perguntou.
— Sim, uma serpente descomunal passando lentamente por debaixo dos batelões! Vicente foi o primeiro a dar-se conta, nos avisando com cautela. Pelo que, já com as armas em punho, aguardamos o ataque. Percebendo que seria uma grande peleja, talvez, o monstro seguiu adiante sem atacar barca alguma do comboio. A Pirataca era um monstro-serpente que devorava gente; ela emergia das águas do rio e filho de Deus algum podia escapar-lhe às presas: uma cobra gigante com dentes enormes. Virava os batelões e a matança se seguia. Quem tivesse a ventura de avistar a tempo de sair das águas, muitas vezes lograva escapar, ouvindo os gritos de horror dos pobres desavisados e guardando na mente a triste cena até o fim de seus dias.
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