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A sina dos seis monçoeiros - O triste fim de Bartolomeu

       Bartolomeu também era um homem forte com feições sofridas pela vida dura de proeiro durante as monções, o rosto queimado pelo sol, os olhos amarelados, cabelos curtos, barba longa e maltratada, um pouco grisalho. Acabara de picar o fumo de corda e enrolar cuidadosamente na palha para enfim tragar o cigarro como se fosse o último da vida, e então começou a narrar sua história:      — Estávamos Carlos, Vicente eu, observando o rio e conversando sobre a Pirataca, gratos pela providência divina em afastar o monstro dos batelões, preocupados com os amigos que seguiram viagem e proseando sobre os perigos do rio. Escutamos ao longe o barulho de galhos quebrando; poderiam ser índios, um jaguar, outros monçoeiros… Botamos sentido no barulho, que parecia estar se distanciando; logo nos distraímos com a correnteza do rio. Aproveitamos a aparente calmaria para beber mais um pouco, pois era sabido que ao chegar ao destino a caninha não estaria nos esperando....
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A sina dos seis monçoeiros - O avistamento da Pirataca

          Casimiro era um homem alto e forte, a pele branca queimada pelo sol e oleosa, cheia de feridas, umas curadas, outras abertas. O cabelo longo, liso e castanho-claro, com uma barba curta malfeita, com falhas e cicatrizes. Era o mais bem vestido do grupo, não que suas roupas não estivessem esfarrapadas, mas aparentemente era o líder daqueles homens. Ele iniciou os relatos:      — Bem, meus amigos, não sei como nos encontramos: vocês do lado de lá e nós do lado de cá, mas enfim, vamos aproveitar essa oportunidade para conversar antes de cada um seguir seu caminho. — Disse Casimiro, e então começou a contar sua sina: — Nossa embarcação fazia parte de uma monção que seguiria pelo rio Anhemby, de São Paulo para o centro do país, no Mato Grosso e Goiás, onde a busca por ouro e pedras preciosas mostrava-se benéfica. Seguíamos com mercadorias para comercializar com os garimpeiros que lá estavam. Havia cerca de dez batelões em nosso comboio. —...

O caminho dos Ipês

Todos os anos têm doze meses cada mês um festejo para alegrar uma beleza para admirar uma música para dançar ainda que a vida com seus reveses tente nos derrubar Quando vejo um Ipê florido fico logo a pensar como com a vida podemos relacionar o florir e o secar dessa bela árvore popular Assim como os ipês teremos dias coloridos alguns sem graça outros penosos chegando a beirar a desgraça Pois veja, durante meio ano o ipê fica ali pelo caminho discreto com seus galhos ora com folhas, ora secos respeitando seu momento Chegamos a pensar que de tanto secar vida mais não há então ela se transforma na mais bela árvore de inverno branco, roxo, amarelo O Ipê vem nos presentear com uma bela florada  e o caminho enfeitar para nosso dia alegrar A florada dura pouco uma semana ou menos mas para quem sabe olhar a beleza dá seus acenos para se admirar e então volta a secar Façamos como os Ipês  não nos deixemos desanimar dia após dia, mês após mês vivamos a vida sem pestanejar mesmo com von...

A sina dos seis monçoeiros - O encontro com a canoa fantasma

  Com o falecimento do meu avô, senhor Anselmo Pelotas, a família toda precisou se mobilizar para resolver assuntos de inventário. Dentre os bens, constava uma propriedade beira-rio no Rio Tietê, onde o velho, exímio pescador e, com isso, detentor de várias histórias para contar, gostava de passar seus dias de aposentadoria lembrando da época em que o rio era navegável e havia a possibilidade de realizar festejos e pescarias, reunindo amigos e familiares. Lembro que adorávamos a época das férias escolares, pois sempre passávamos o período na casinha vermelha de tijolos aparentes e brincávamos livremente pelo terreno, que era muito grande, considerando o espaço que tínhamos para brincar durante o resto do ano. Então, durante os meses de julho, dezembro e janeiro, lá ia a garotada — aquele monte de criança com uma energia enorme —, e os velhos adoravam! Minha avó, dona Constança Pelotas, cozinhava várias comidas de sítio: bolos, doces, suco de fruta colhida do pé. Só brigava com a cr...

A dor da perda de um animalzinho

Quando perco um animal de estimação, é como se tivesse perdido um ente da família; aliás, é um ente da família. A dor é imensurável. Ontem, minha gata Penny morreu, e estou dilacerada. Por isso, decidi escrever hoje sobre a perda de meus animais, não como uma "homenagem macabra", e sim como um desabafo. Eu sempre tenho um animal de estimação, seja cachorro, gato ou os dois ao mesmo tempo, e sempre que eles se vão, digo que nunca mais vou pegar outro, porque a dor da perda é algo realmente ruim. Sofri todas as vezes que perdi meus animais de estimação, mas os que mais me machucaram foram o Setaou, a Ômega, Isis e Bastet, Peludo, a Lara, a Zelda e, finalmente, a Penny. Não que todos os outros animais que tive na infância não doessem, mas acho que, de certa forma, o amor era compartilhado, pois tínhamos muitos… Cada um marcou a sua forma, senti a falta de todos e ainda me lembro dos bons momentos. A cada perda, acho que nos fortalecemos, mas a dor ainda é grande; ela nunca dimin...

Passado, presente e futuro

Sabe, sou fã de carteirinha de desenhos animados! Sempre tenho uma referência para algo que acontece. Esses dias estava me sentindo a Olívia Palito ao sair do salão de beleza. Cortei meus cabelos e fui trabalhar com eles escovados; as meninas fizeram uma maquiagem, mas estava me sentindo tão estranha… nem tanto pela maquiagem, mas pelo cabelo escovado… gosto do meu cabelo cacheadinho… rs Outra hora estou com tanta fome que estou virando o Hulk! Kkkkkk E esses dias, nas nossas conversas na escada, declamei um trecho do Kung Fu Panda, onde o mestre Oogway diz: “O ontem é história, o amanhã um mistério, mas o hoje é uma dádiva, por isso chama-se presente”. E quer saber? É verdade! Não se pode mudar o que já aconteceu. Podemos até traçar um caminho, planejar o futuro, mas muitas vezes não chegamos lá como imaginávamos. Nós só temos poder sobre o que estamos fazendo agora. Agora, não podemos mudar o ontem, nem ter certeza do impacto dos nossos atos no amanhã, mas podemos curtir de uma forma...

Por que, cargas d’água, a esperança estava na Caixa de Pandora?

Eu e minhas irmãs costumamos ter papos muito filosóficos, um pouco diferentes, sem aquela prepotência de quem tudo sabe. Enfim, recentemente, nas pesquisas sobre assuntos aleatórios na internet, Pricila leu um texto sobre a Caixa de Pandora. Em suma: Epimeteu havia recebido dos deuses uma caixa onde estavam todos os males. Ele disse à mulher, Pandora, que não a abrisse. Mas a mulher, você sabe, ô bicho curioso! E assim como Eva, lá foi Pandora fazer exatamente o que não devia: ela abriu a caixa. Todos os males saíram, e Pandora conseguiu prender apenas a esperança. Então, eu te pergunto: o que diabos a esperança estava fazendo dentro de uma coisa que continha todos os males? O que ela estava fazendo lá? Será a esperança um mal também? Penso que, uma vez que se tem esperança, mas não se age, isso é um mal. Mas uma vez que se tem esperança e se esforça para alcançar um objetivo, por que ela seria algo mau? Ou, como dizem da esperança: mesmo no caos ela existe, é a última a morrer, b...