Bartolomeu também era um homem forte com feições sofridas pela vida dura de proeiro durante as monções, o rosto queimado pelo sol, os olhos amarelados, cabelos curtos, barba longa e maltratada, um pouco grisalho. Acabara de picar o fumo de corda e enrolar cuidadosamente na palha para enfim tragar o cigarro como se fosse o último da vida, e então começou a narrar sua história: — Estávamos Carlos, Vicente eu, observando o rio e conversando sobre a Pirataca, gratos pela providência divina em afastar o monstro dos batelões, preocupados com os amigos que seguiram viagem e proseando sobre os perigos do rio. Escutamos ao longe o barulho de galhos quebrando; poderiam ser índios, um jaguar, outros monçoeiros… Botamos sentido no barulho, que parecia estar se distanciando; logo nos distraímos com a correnteza do rio. Aproveitamos a aparente calmaria para beber mais um pouco, pois era sabido que ao chegar ao destino a caninha não estaria nos esperando....
Casimiro era um homem alto e forte, a pele branca queimada pelo sol e oleosa, cheia de feridas, umas curadas, outras abertas. O cabelo longo, liso e castanho-claro, com uma barba curta malfeita, com falhas e cicatrizes. Era o mais bem vestido do grupo, não que suas roupas não estivessem esfarrapadas, mas aparentemente era o líder daqueles homens. Ele iniciou os relatos: — Bem, meus amigos, não sei como nos encontramos: vocês do lado de lá e nós do lado de cá, mas enfim, vamos aproveitar essa oportunidade para conversar antes de cada um seguir seu caminho. — Disse Casimiro, e então começou a contar sua sina: — Nossa embarcação fazia parte de uma monção que seguiria pelo rio Anhemby, de São Paulo para o centro do país, no Mato Grosso e Goiás, onde a busca por ouro e pedras preciosas mostrava-se benéfica. Seguíamos com mercadorias para comercializar com os garimpeiros que lá estavam. Havia cerca de dez batelões em nosso comboio. —...