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Mostrando postagens de 2025

A sina dos seis monçoeiros - O triste fim de Bartolomeu

       Bartolomeu também era um homem forte com feições sofridas pela vida dura de proeiro durante as monções, o rosto queimado pelo sol, os olhos amarelados, cabelos curtos, barba longa e maltratada, um pouco grisalho. Acabara de picar o fumo de corda e enrolar cuidadosamente na palha para enfim tragar o cigarro como se fosse o último da vida, e então começou a narrar sua história:      — Estávamos Carlos, Vicente eu, observando o rio e conversando sobre a Pirataca, gratos pela providência divina em afastar o monstro dos batelões, preocupados com os amigos que seguiram viagem e proseando sobre os perigos do rio. Escutamos ao longe o barulho de galhos quebrando; poderiam ser índios, um jaguar, outros monçoeiros… Botamos sentido no barulho, que parecia estar se distanciando; logo nos distraímos com a correnteza do rio. Aproveitamos a aparente calmaria para beber mais um pouco, pois era sabido que ao chegar ao destino a caninha não estaria nos esperando....

A sina dos seis monçoeiros - O avistamento da Pirataca

          Casimiro era um homem alto e forte, a pele branca queimada pelo sol e oleosa, cheia de feridas, umas curadas, outras abertas. O cabelo longo, liso e castanho-claro, com uma barba curta malfeita, com falhas e cicatrizes. Era o mais bem vestido do grupo, não que suas roupas não estivessem esfarrapadas, mas aparentemente era o líder daqueles homens. Ele iniciou os relatos:      — Bem, meus amigos, não sei como nos encontramos: vocês do lado de lá e nós do lado de cá, mas enfim, vamos aproveitar essa oportunidade para conversar antes de cada um seguir seu caminho. — Disse Casimiro, e então começou a contar sua sina: — Nossa embarcação fazia parte de uma monção que seguiria pelo rio Anhemby, de São Paulo para o centro do país, no Mato Grosso e Goiás, onde a busca por ouro e pedras preciosas mostrava-se benéfica. Seguíamos com mercadorias para comercializar com os garimpeiros que lá estavam. Havia cerca de dez batelões em nosso comboio. —...

O caminho dos Ipês

Todos os anos têm doze meses cada mês um festejo para alegrar uma beleza para admirar uma música para dançar ainda que a vida com seus reveses tente nos derrubar Quando vejo um Ipê florido fico logo a pensar como com a vida podemos relacionar o florir e o secar dessa bela árvore popular Assim como os ipês teremos dias coloridos alguns sem graça outros penosos chegando a beirar a desgraça Pois veja, durante meio ano o ipê fica ali pelo caminho discreto com seus galhos ora com folhas, ora secos respeitando seu momento Chegamos a pensar que de tanto secar vida mais não há então ela se transforma na mais bela árvore de inverno branco, roxo, amarelo O Ipê vem nos presentear com uma bela florada  e o caminho enfeitar para nosso dia alegrar A florada dura pouco uma semana ou menos mas para quem sabe olhar a beleza dá seus acenos para se admirar e então volta a secar Façamos como os Ipês  não nos deixemos desanimar dia após dia, mês após mês vivamos a vida sem pestanejar mesmo com von...

A sina dos seis monçoeiros - O encontro com a canoa fantasma

  Com o falecimento do meu avô, senhor Anselmo Pelotas, a família toda precisou se mobilizar para resolver assuntos de inventário. Dentre os bens, constava uma propriedade beira-rio no Rio Tietê, onde o velho, exímio pescador e, com isso, detentor de várias histórias para contar, gostava de passar seus dias de aposentadoria lembrando da época em que o rio era navegável e havia a possibilidade de realizar festejos e pescarias, reunindo amigos e familiares. Lembro que adorávamos a época das férias escolares, pois sempre passávamos o período na casinha vermelha de tijolos aparentes e brincávamos livremente pelo terreno, que era muito grande, considerando o espaço que tínhamos para brincar durante o resto do ano. Então, durante os meses de julho, dezembro e janeiro, lá ia a garotada — aquele monte de criança com uma energia enorme —, e os velhos adoravam! Minha avó, dona Constança Pelotas, cozinhava várias comidas de sítio: bolos, doces, suco de fruta colhida do pé. Só brigava com a cr...